sábado, 16 de fevereiro de 2008

Liberdades

"São apreendidos, em Lisboa, os jornais "A Paródia", "Novidades" e "O Liberal", por criticas ao Governo."
Não foi agora... Foi há cento e dois anos, neste dia, em que também se comemora uma tal Convenção de Badajoz que nos entregou o Algarve para sempre. (Há grandes pechinchas em Badajoz!). Este 16 de Fevereiro é de 1267. Doze anos mais tarde, o Rei Afonso III, o mesmo que foi a Badajoz "negociar" o Algarve, morria, no mesmo dia 16 de Fevereiro.Sobre a Paródia encontrei isto:
"Os portuguezes são essencialmente conservadores. Por muito que esta opinião possa surprehender o nosso collega Magalhães Lima, não é menos certo que se nós mudamos com frequencia de fato, nos recusamos obstinadamente a mudar de idéias, o que faz com que em Portugal a fortuna sorria aos alfayates como o Sr. Amieiro do que aos evangelistas como o Sr. Theophilo Braga.
Se somos inquestionavelmente um paiz de janotas, estamos longe de ser um paiz de reformadores. Assim, o nosso primeiro embaraço ao emprehender esta publicação é familiarisar o publico com a idéa de que já não se chama o António Maria o jornal que tem agora na mão, por que o publico, conservador e rotineiro, quereria ver perpetuado no tempo e na galhofa, aquelle titulo que ficou pertencendo a uma epocha que desapareceu e que por isso fez o seu tempo.
Porquê - o que era o António Maria? O António Maria, meus senhores, foi a regeneração, o Fontes e a sua Agua Circassiana, o Avila e o seu cachenez, o Sampaio e os seus pamphletos, o Arrobas e os seus editaes, o Passeio Publico e o lyrismo do Sr. Florencio Ferreira, a Srª Emilia das Neves, a «judia» e os Recreios Whitoyne, mundo findo, mundo morto, de sombras, espectros, mumias, onde só poderiamos estar á vontade sob a condição de termos desapparecido com elle, o que não é evidentemente um facto.
Ficarmos dentro do António Maria seria ficar dentro de um museu, na situação de um velho guarda mostrando á curiosidade do seu tempo os despojos de uma epocha passada. A parodia é outra coisa, como o tempo é outro. O António Maria foi um homem. Quando muito, foi uma família. A Parodia - dizemol-o sem receio de ser immodestos - somos nós todos.
A Parodia é a caricatura ao serviço da grande tristeza pública. E' a Dança da Bica no cemitério dos Prazeres."

1 comentário:

Anónimo disse...

Que interessante, este texto que nos deste a conhecer!
Beijo grande, uma a quem o descanso tem dificuldade a cansar (esta é sobre o post de domingo, lá em cima).
IO