sábado, 15 de março de 2008

Até tu, MEC...

...envelheceste!O MEC é uma referência muito importante para a minha geração. Ele pensava as coisas que se passavam à nossa volta, que aconteciam e dizia-as com naturalidade, sem pudores nem despudores, construindo assim uma espécie de consciência dos trintinhos e trintões de então.
Não havia Internet, mas havia o Expresso ao sábado de manhã, para ler sofregamente a crónica dos tempos que corriam, num estilo que era novo, desabrido, a rondar os limites, sem os ultrapssar, deixando-nos o apetite "aberto" para a semana seguinte.
(Abrir o apetite é uma expresão um pouco mais velha do que o MEC e faz-nos nascer na boca o sabor do óleo de fígado de bacalhau de má mémória!!!)
Era o tempo das amplas liberdades democráticas e das primeiras preocupações com as doenças que vinham de longe, como a Sida, tão poderosamente perigosas que derrubavam mitos, como o galã mais irresistível da tela: Rock Hudson. Era o tempo das primeiras proibições do fumo. Era o princípio do fundamentalismo: "Fume Menos, Leia Mais" é um slogan de que não me lembro, mas está nas crónicas do MEC. Daqui ao "Não se embebede tanto- Compre pilhas Tudor" e outras ridículas hipóteses de frases publicitárias foi um segundo. A critividade do MEC esteve sempre ao serviço da crítica social "à maneira de Gil Vicente", como dizem os que fazem hoje esse papel.
O MEC era novo, irreverente, tinha orelhas de abano e um tique horrível para quem o via em vez de ler. Mas era incontornável na sua capacidade de criticar, criticando-se a si mesmo, coerentemente, já que parte de si sofreu sempre de um portuguesismo agudo. A parte mais britânica é que o punha a funcionar, penso eu!
Anteontem o MEC voltou às colunas dos jornais. Do Público. Curiosamente, o jornal sobre o qual escreveu algumas amargas linhas na Causa das Coisas. Considerando que "A democracia, na política é um bom conceito" e que "Nas artes, em contrapartida, é uma boa chatice", o MEC golpeia a vaidade do jornal acabado de nascer.
Isso deve ter sido muito bom para o Público e possivelmente manteve os jornalistas preocupados com os críticos e assim obrigados a uma qualidade jornalistica minimamente aceitável para os leitores pensantes.
O MEC tem escrito por aí noutros jornais não tão diários nem tão lidos como o Público. Estou convencida de que agora vai ficar mais visto e mais lido. E isso é bom. A escrita do MEC mantém as marcas dos "loucos anos oitenta" e faz-nos reviver essa consciência perdida.
Mesmo mais gordinho e mais velhote, o MEC é um verdadeiro óleo fígado de bacalhau para o nosso pensamento. Depois de o lermos, apetece pensar.
Gusrdei aqui as duas primeirs crónicas desta era século vinte e um.

4 comentários:

IC disse...

Há quanto tempo não o via!! Até me tinha esquecido de que também devia estar agora com o visual velhote...
Há tempos li que 'recordar' significa 'trazer de novo ao coração'. Pois... mas é um 'trazer de novo' com sabor triste a passado...
Beijinhos

calamity jane disse...

E a Kapa? Lembras-te?

Luisa Hingá disse...

Ai a minha anca... Risos
Obrigada por teres postado estas pérolas do MEC.
Beijinhos

Flávio disse...

Que saudades do nosso Pastilhas (quando era bom)!