domingo, 29 de junho de 2008

O dia em que eu encontrei o "Inoque"

Este título tem uma nítida influência "agualusiana". Pelo menos, a mim, parece-me. Não faz mal. Ninguém me vai acusar de plágio e os envolvidos muito menos.
A primeira vez que eu encontrei o Inoque, foi num dos Manuais de Português, dos anos oitenta, altura em que eu era o que sonhava vir a ser para sempre: Professora de Português. Eu estava mais apaixonada pela Língua Portuguesa do que o próprio Pessoa. (Não te irrites, Poeta, esta frase é uma hipérbole!)A minha pátria da altura era sem qualquer margem de dúvida, a Língua Portuguesa.
Ontem, avisada que estava para uma reedição das obras de Virgílio Ferreira, num daqueles passeios de sábado ao fim do dia, na Fnac da Guia, não foi difícil encontrar os Contos. Apesar de estar às voltas com outras páginas, as novidades são sempre muito irresistíveis.
E por ali fui andando, página a página, encantada com as narrativas que "cantam" e contam sobretudo a simplicidade das gentes, simplicidade que corre o risco de morrer assassinada pelos costumes de hoje que não permitem que ela nasça, quanto mais que cresça, dê flores e frutos.
(Nas lojas de moda, as coisas simples, chamam-se "básicas", o que conota logo as ditas coisas simples com a noção de incompleto, imperfeito, pouco.)
E eis que chego à Palavra Mágica. E eis que dou de caras com o Inoque.
Inoque foi o que o Silvestre ouviu como insulto. Mas o que o outro contendor disse não foi inoque, foi inócuo. Contudo, de boca em boca, de rixa em rixa, como tão bem se narra naquelas linhas, a palavra assumiu todos as intenções insultuosas, das mais inocentes às mais nefandas.
Até que chegou ao juiz, que resolveu o imbróglio, para desgosto de todos que viram morrer tão ingloriamente a poderosa palavra que feria mais do que cem espadas.
O dia em que eu reencontrei o Inoque foi o dia a seguir a este pôr-do-sol, que deliciaria o Principezinho, como me deliciou a mim.Parece que o sol se aconchega com pressas de desejos à terra e ao rio, deixando o céu por conta das estrelas... Elas guardam as noites!
E, se me é possível o atrevimento, dedico este pôr-do-sol à minha terra distante que festejou, no dia 25 anos, 33 anos!
E ao irmão do Principezinho, pois nele são evidentes o traço do ideal, Nelson Mandela, que festejou ontem uma idade qualquer... Este é um dos raros seres humanos para quem o tempo só vale se for todo, inteiro, como ele mesmo! A Mandela, agradeço ainda o exemplo!

2 comentários:

Anónimo disse...

Com este dom da escrita, que excelente professora de português! Para todos nós.
Parabéns e obrigada, Madalena,
Beijinhos

Luisa Hingá disse...

E eu que ontem estive quase a ir também à Fnac da Guia... Um dia destes temos que nos encontrar.
Beijinhos