O'Neill, o poeta que não parece poeta. Se passar por um Pessoa e me disserem: ali vai um poeta, eu acredito. O mesmo não diria ao passar por um O'Neill. Ali vai um homem. Normal? Talvez! Zangado? Não sei porquê, mas todos os retratos de O'Neill me dão a ideia de um homem zangado. Claro que para um poeta o mundo não é senão um espaço hostil, uma espécie de cenário de guerra onde ele sozinho combate toda a espécie de inimigos. Então não sei por que é que Pessoa me parece poeta e O'Neill me parece mais um homem igual aos outros que não são poetas. Nem vencidos da vida, nem convencidos da vida, como o próprio O'Neill chamou a alguns que "querem vencer, querem, convencidos, convencer"; a alguns que "estão convencidos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras".
O'Neill morreu há vinte e dois anos. Ou ele antecipou uma visão de sociedade, ou ela já existia assim e continua assim: cheia de falsidades, de cinismos, povoada dos tais convencidos da vida.
De qualquer modo, O'Neill, o homem zangado, conhecia bem o que quer dizer a palavra Amigo!
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo»
é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo»
(recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não
o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo»
é a solidão derrotada!
«Amigo»
é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
3 comentários:
Posso atrever-me a dizer que amigo é quem não desiste de nós? Apesar de tantas desilusões!
Tens razão, Célia! Muita razão. Amigo é quem não desiste de nós. Os que desistem é porque não o são! Espero nunca te desiludir, mas mesmo que isso aconteça tenho a certeza que podemos continuar a reinaugurar a palavra amigo todos os dias. beijinhos
É claro que sim, Mada. Mil beijinhos.
Enviar um comentário