Nelson Évora nasceu a 20 de Abril de 1984 na Costa do Marfim. Filho de pai cabo-verdiano e mãe costa-marfinense, Nelson acabou por ficar com nacionalidade cabo-verdiana. Como o pai, Paulo, começou a trabalhar muito cedo como contra-mestre de navios, pôde reformar-se cedo e, querendo dar uma boa educação aos filhos, trouxe-os para Portugal. Na altura, Nelson tinha 5 anos.
Por ironia do destino, a família Évora fixou-se em Odivelas, no andar de cima de João Ganço, antigo recordista nacional de salto em altura e primeiro português a passar 2m, que tinha três filhos igualmente pequenos. David, por ser apenas um ano mais velho que Nelson, tornou-se no seu melhor amigo. Certo dia, João Ganço vendo-os a brincar à porta do prédio sugere a Nelson que começasse a praticar atletismo como o David, e assim, se inicia a carreira desportiva de Nelson.
Nelson, treinando nas instalações da Escola da Ramada, começou a participar nas provas de estrada do Torneio de Loures e, em conjunto com o David, dominavam o seu escalão.
Aos 10 anos, ingressa no Odivelas Futebol Clube, e como benjamim salta 1,64m no salto em altura... quando ele próprio media pouco mais de 1,40m. Nesse escalão havia o Troféu Nuno Nogueira e o Nelson, mesmo passando as provas de marcha a contar anedotas no grupo dos últimos, ganhava esse troféu.
Como o Nelson e o David davam nas vistas, o Benfica convidou-os a ingressarem no clube e, graças às melhorias das condições de treino, Nelson começou a revelar o seu talento e as suas aptidões físicas na disciplina de saltos. Em infantil, melhora o seu record pessoal no salto em altura para 1,75m e no salto em comprimento, faz 5,50m o que significava que já não tinha adversários ao seu nível, nem mesmo nas provas combinadas.
Como iniciado, atinge uma espectacular marca no salto em altura: 1,98m, no salto em comprimento faz 6,46m e, numa primeira abordagem ao triplo salto, salta 14,35m.
Aos 15 anos, uma grave lesão num joelho fez-lhe ter medo do salto em altura, mudando-se para os saltos horizontais. É assim que se explica que em juvenil de 1º ano não tenha melhorado no salto em altura. Contudo, no salto em comprimento aproxima-se dos 7m e no triplo dos 15m. Na segunda época de juvenil, Nelson salta 7,55m no comprimento e 16,15m no triplo salto. Representa pela primeira vez Portugal no Festival Olímpico da Juventude Europeia, trazendo logo uma medalha de ouro na prova de salto em comprimento.
Completando os 18 anos em 2002, Nelson opta por se naturalizar português esclarecendo que é em Portugal que está a sua vida, e que se sente mais português que cabo-verdiano ou marfinense. E, só como júnior começa a inscrever o seu nome nos records nacionais portugueses. É também como júnior que Nelson Évora passa pelo F.C. Porto e se mostra um atleta de futuro a nível mundial. Em 2002 participa no Campeonato Mundial de Juniores em Kingston (Jamaica), quedando-se pelo sexto lugar no triplo salto mas àquem do seu record pessoal, fazendo 15,87m. E em 2003, é duplo campeão europeu de juniores em Tampere (Finlândia): no salto em comprimento e no triplo salto com 7,83m e 16,43m, respectivamente.
Começaram a chover propostas de universidades americanas, mas Nelson, um jovem muito caseiro e muito ligado aos amigos e ao seu treinador, não se deixou convencer. Sem a família por perto, Nelson não é feliz e, se fosse para os Estados Unidos, a família estaria muito longe de Nelson, e isso seria doloroso para quem “ter amor por perto é o mais importante...”
Em 2004, voltou para o seu clube de coração, o Sport Lisboa e Benfica, mas foi um ano marcado por uma lesão que quase impedia a sua presença nos prestigiantes Jogos Olímpicos que se desenrolaram em Atenas. No entanto, fez uma recuperação fantástica a tempo de participar, só não conseguindo chegar à marca de acesso à final. Mas mesmo assim, esta presença foi proveitosa para Nelson ganhar experiência e sobretudo para sentir de perto as grandes emoções que se vivem numa competição deste nível.
Em 2005, conquistou a medalha de bronze no triplo-salto com 16,89 metros, no Campeonato da Europa Sub-23 em Erfurt (Alemanha) e participou no Campeonato do Mundo em Helsínquia, falhando a qualificação para a final por poucos centímetros ao ser 14.º nas eliminatórias. Durante esta época, Nelson volta a dar um “saltinho” ao salto em altura, para ajudar colectivamente o Benfica no campeonato de sub-23, e consegue passar 2,07m sem qualquer treino específico...
No ano seguinte, Nelson dá definitivamente o pulo para o grande circuito mundial quando em Fevereiro num dos primeiros meetings internacionais de pista coberta, ganha em Moscovo (num dia em que até estava bastante indisposto), batendo o record nacional pertencente a Carlos Calado e ficando, durante algumas semanas como líder mundial com a marca de 17,19m. Em Moscovo, Nelson participaria ainda no Campeonato do Mundo em Pista Coberta, no qual alcançou o sexto lugar. Também em 2006, esteve no Campeonato Europeu em Gotemburgo acabando em quarto lugar no triplo-salto com a marca de 17,07 metros (na eliminatória tinha feito 17,23- novo record nacional). Ficou ainda em sexto no salto em comprimento com a marca de 7,91 metros.
No ano de 2007, Nelson participou no Campeonato Europeu em Pista Coberta em Birmingham no triplo salto, no qual obteve o 5.º lugar. Nessa competição, Nelson lesionou-se logo ao primeiro ensaio, tendo ficado impossibilitado de lutar pelo pódio, algo que já seria expectável. Torna-se pela primeira vez, presença regular nos maiores meetings do circuito europeu e, em Madrid, fixa novo record mundial em 17,51m. E em Agosto, nos Mundiais de Osaka, Nelson Évora entra para a história, sagrando-se campeão do Mundo de triplo salto com a espectacular marca de 17,74m (segunda melhor marca mundial do ano) e também recorde nacional.
2007 foi o ano da grande confirmação em sénior de quem já tinha sido dos melhores juvenis e juniores mundiais mas desengane-se quem pensa que Nelson Évora vai ficar por aqui porque “o sonho continua...”.
Texto de Rafael Lopes
Hoje o coração puxa-me para a minha costela saloia e fico ainda mais emocionada pela referência a lugares que também são meus pela legitimidade dos vinte anos que vivi em Odivelas.imagem do Jornal de Notícias
Obrigada, Nelson Évora!
2 comentários:
A costela saloia está sempre presente. Em mim manifesta-se através do treinador da Vanessa Fernandes... : )
Ca estive eu a ler atentamente a historia do rapaz. Nao a conhecia! Obrigado. Para mim, alem de valer os seu peso em ouro pelos feitos obtidos, e' tambem um dos portugueses mais lindos que estes olhinhos deitaram a vista em cima nos ultimos tempos... Ai que se nao fosse tao novinho... ai se ele me conhecesse... aiiiiiiiii.... que perdicao de homem! Fica o desabafo... eheheheh
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