domingo, 28 de dezembro de 2008

Ai Pai Natal, Pai Natal!

Agora que descobri onde moras, tenho vontade de me meter ao caminho e ir até Korvatunturi , para que saibas que foste a causa da primeira desilusão da minha vida.
Tinha seis anos e, naquele ano, como nos outros, tinha desejado um brinquedo daqueles que dá para antecipar a vida: um boneco que era tal e qual um bebé.
Nunca tinha sequer duvidado da tua existência. Duvidava apenas da tua pontualidade e pensava que talvez fosses um ser pouco sociável. Chegavas sempre tão tarde, tão tarde que eu nunca tinha conseguido parar o sono para te encontrar e para falar contigo! Lembro-me de combater o sono nas noites de vinte e quatro, depois de ter posto o sapatinho, na cozinha, ao pé do fogão...
Naquele ano, a minha mãe, para acalmar a minha ansiedade, resolveu antecipar a tua chegada. Faltavam ainda uns dias para o Natal e a minha prima Olga tinha vindo da África do Sul, para passar aqueles dias connosco.
O meu pai estava em Lisboa e a ausência dele magoava, sobretudo naqueles dias. Marcámos uma chamada telefónica para Lisboa, mas como não tínhamos telefone, tínhamos de ir a casa dos vizinhos de cima, os senhorios, e esperar que uma operadora da Marconi estabelecesse a ligação.
À hora combinada, lá fomos e tudo aconteceu muito rápido e muito caro: três minutos, cento e vinte escudos. Não deu para nada que se parecesse com matar saudades. Foi mais um reforço de saudade do que a sua liquidação. Mas o nosso dinheiro não dava para mais!
Para além deste telefonema, o Pai Natal passou pela Rua dos Velhos Colonos, a meio da tarde, num carro pouco parecido com o seu habitual trenó puxado por renas. Disseram-me. Eu não vi, claro! A minha prima Olga é que me garantiu que ele tinha passado, cheio de pressa, num carro vermelho, sem capota, para deixar o presente. Tinha tanta pressa que nem esperou que eu saísse da garagem onde estava a brincar com as bonecas "velhas". A pressa, eu não estranhei. Na mentira, acreditei piamente.
O pior foi a reacção de uns quantos mais crescidos que troçaram descaradamente da minha ingenuidade.
Mas o que me doeu mesmo mais foi ter perdido essa ilusão!Ter perdido, talvez para sempre, a capacidade de me iludir!

3 comentários:

Anónimo disse...

O que se aprende ao ler este postal!
Bjs

Luisa Hingá disse...

Eu nunca acreditei no Pai Natal. Já era crescida quando ouvi falar nesse "Pai" Eu era, e é no Menino Jesus.

Anónimo disse...

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