sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Preço

Toda a gente tem um preço.(Ou será "todos os homens"? Não me lembro bem!)
Uns vendem-se por um volkswagen, outros por um andar no Areeiro. A ideia não é minha. A constatação não é minha. É de Sttau Monteiro. Li-a num dos seus livros, há muitos, muitos anos e nunca a esqueci. Fiquei alertada para os casos em que podia confirmar a verdade do sarcástico dramaturgo de boa memória.
A cena política tem-me fornecido numerosos exemplos e há apenas casos raros que constituem excepção, a tal que confirma a regra. Da história de hoje recolho um exemplo: Mandela. Nem a liberdade física foi preço para deixar rasgar o ideal. Da história mais antiga, recolho outro exemplo: Thomas More, para quem nem a vida foi o preço. "Morro fiel servidor do rei, mas Deus acima de tudo."
Pergunto-me qual o meu preço. Não tenho perfil nem competências de herói, mas tenho as minhas convicções e os meus ideais. Sorte a minha, que não comprometem a humanidade, que anda para a frente ou para trás, independentemente dos meus ideais que têm a minha dimensão, claro! Não sou nada nem ninguém para me questionar, mas não são só os importantes ou os ilustres que têm o direito ou dever de se questionar. O meu destino é um destino individual igual a tantos, igual a muitos. A minha participação no destino colectivo é muito valiosa para mim, mas disso não passa. Por isso, nunca me será posta, formalmente, a questão do preço.
Contudo, às vezes, penso que as minhas decisões sobre os assuntos individuais estão ligadas a um preço: a minha paz de espírito. Eu pago o preço mas, depois, nem chego a ver essa paz, quanto mais a senti-la! Ela esvai-se nos inúmeros quês que me atormentam a consciência, inevitavelmente. E como eu me engano: quando compro o céu, ou julgo que compro o céu, trago para casa o inferno.
É que o inferno somos mesmo nós. Aproveito para informar que volkswagen já tive. Um andar no Areeiro, ainda não!

7 comentários:

EP disse...

Querida Madalena

Tá lógico, tu não tens preço, com esse coração doce, esse afinco, dedicação, amor pelo trabalho, não tens mesmo preço Amiga.

Beijinhos

Gatapininha disse...

Oi Madalena
Tudo tem um preço, pode é não estar disponível para venda:)

jokas e bom fim-de-semana

Teresa disse...

Também já pensei nisso: qual será o meu preço? Mas nunca descobri, nem espero vir a saber. Até porque não quero! Preferia alcançar a paz de espírito, vamos lá ver se ainda lá chego...
Um grande beijinho, Mad, e obrigada por estes textos maravilhosos.
TP

Natália Fera disse...

Nunca percas a esperança Madalena,ainda podes vir a ter esse andar no areeiro ihihih

Tens sim um coração muito docinho,é sempre muito bom ler as tuas mensagens e os teus comentários.
Beijinhos e bom fim de semana.

Graça Pereira disse...

Minha Querida
Preço só tem quem se deixa vender... os outros, nem trazem etiqueta....
Beijo e bom fds
Graça

eduardo disse...

Sttau Monteiro, esse velho lutador incansável, defensor das palavras que não tinham preço. Lembro-me bem.

E quando se fala em valores, podem calcular-se os que não têm cotação; a amizade, a partilha, a cumplicidade nos dias bons ou maus. A ternura. O amor, esse pedaço de coisas boas, que nos despedaça o coração.

E tu, Madalena, tal como todas as pessoas extraordinárias que tenho o prazer de conhecer pela escrita, nunca se conotam com etiquetas de saldo.

É mais fácil adquirir o tal andar no Areeiro. Ou porque não na Lapa?

Já tinha saudades de passar por aqui e actualizar a leitura nos belos tópicos que nos trazes.

Fica bem. A gente vai-se vendo por aí.

Anónimo disse...

que se passa amiga? que amargura é esta que te dá...
Que é feito de ti...não te "vemos", estou a ficar apreensiva...
diz qualquer coisa...
TeresaM