As canções dos Beatles foram a banda sonora de uma revolução global que nós, os “sessentinhas” e os “cinquentões”, vivemos com a gulodice própria da adolescência, daquelas cheias de “borbulhas no rosto”, como diz a canção do Rui Veloso. Foi bom! De repente, o mundo parecia estar a nosso favor e não contra nós, “para nos tramar”… (Outra vez a canção do Rui Veloso!)
A primeira vez que me lembro de dançar (eu, que nem sabia dançar!) ao som daquela magia que toma conta de nós e nós não sabemos porquê, foi no aniversário da minha prima Madalena. Ela fazia os mesmos dez anos que eu tinha feito dois dias antes. Estávamos crescidas! (Achávamos nós!)
O Twist and Shout passava uma vez e outra vez no pick up que coloria de som a festa de anos.
Nós não sabíamos porque quem está por dentro das coisas não vê, mas a adolescência estava mesmo a chegar, com uma bagagem de novas sensações. Também não sabíamos e ainda não sabemos tudo acerca das sensações: só se sabe o que se experiencia na primeira pessoa.
Também não sabíamos, mas em breve viríamos a compreender que anda tudo ligado. Naquela manhã em que a minha mãe me foi acordar, com o medo na voz e nos gestos, percebi que ser adulto podia não ser assim tão fácil como imaginavam os meus dez anos, presos às pernas altas e corpo desengonçado: mataram o Kennedy! Ora o Kennedy não era só política: havia o lado cor de rosa dos Kennedy que tinha acabado de nascer com a belíssima, requintadíssima Jackie.
Bem, pelo menos ainda não tinha sido o Salazar, que esse parecia ser o medo máximo da minha mãe. Esse sim punha em causa vivermos como vivíamos, já então numa antecipação de conforto que havia de caracterizar o fim do século vinte.
Chegados à adolescência, lá estavam os Beatles. “Aqueles guedelhudos” que se calhar nem banho tomavam todos os dias! Enquanto uns se fixavam nos cabelos escandalosamente compridos, quase a tocar o colarinho da camisa, outros aproveitavam as letras para “crescer” e o mundo pulava e avançava “como bola colorida” entre as mãos de uma criança que ia ficando cada vez mais para trás. Estávamos a perder a "criança" (que dizemos que ora dentro de nós) e parecia não nos importarmos com isso…
Foi pena termos perdido essa criança!
A 19 de Novembro de 1967 os Beatles lançavam o seu álbum “Magical Mistery Tour”. Like a fool on te hill faz parte desse trabalho e não tem nada a ver com twist. Tem mais a ver com uma nova maneira de ver o mundo, lá de cima, do topo do monte…
Like a fool on the hill...
4 comentários:
Day after day
alone on the hill.........
Memórias boas. Dos bailes nas garagens dos amigos...
Bom dia!
Beijinho
belíssimo texto, Madalena, que prazer ler.
E é a memória dos dias que alimenta a nossa alma!
Um Santo e Feliz Natal para ti e todos os teus e que 2012 não seja tão mau como está fadado!!
Mil beijos.
Graça
Um beijinho, doce Madalena...
Adorei o texto, como sempre...
Um beijinho com votos de um Natal cheio de sonhos renovados...
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