terça-feira, 31 de agosto de 2004
A viagem
Continuo em Moçambique. Não de corpo. De memória e coração.
Pelas artes e letras, a descobrir quase-envergonhada o que devia saber e não sei...
No entanto, vou encontrando pessoas que já foram minhas, num tempo distante!
É uma emoção forte, que estilhaça no espaço que eu não sei definir, porque o meu conhecimento, para tal, não dá. É um espaço facilmente "vencível", em termos práticos. Estou à distância de uma tecla de um passado semi-adormecido, anestesiado pela correria dos dias impiedosos e inexoráveis.
Não é este o espaço das lamentações.
Estou em Chora que Logo Bebes, ponto de partida.
Será um dia ponto de chegada.
Entretanto, é a viagem.
Encontrei o meu professor de Desenho: o pintor João Paulo.
Aqui deixo as palavras que lhe teria dito aos quinze anos, se, nessa altura, soubesse verbalizar o que então já sentia.
Eu sabia, sentia, que estava (estávamos todos) perante um mestre, um artista, alguém que tinha naquela forma de expressão a sua forma de expressão: era a sua natureza, feita de cores, traços. Ele sabia, no meu caso, que estava perante o grau zero do conhecimento e do talento nessa área.
Queria tanto agradecer-lhe nunca ter sentido qualquer forma de humilhação por isso!
Pelo contrário: lutou contra a minha ignorância, para além de todos os limites.
E, graças a essa sua luta, eu não "chumbei" a Desenho no exame de quinto ano. Os correctores da prova de exame devem ter visto na minha prova a sua determinação.
Como professora, lembro-me muitas vezes deste mestre.
O meu tributo é a tentativa séria de imitar o seu exemplo pedagógico!
Pelas artes e letras, a descobrir quase-envergonhada o que devia saber e não sei...
No entanto, vou encontrando pessoas que já foram minhas, num tempo distante!
É uma emoção forte, que estilhaça no espaço que eu não sei definir, porque o meu conhecimento, para tal, não dá. É um espaço facilmente "vencível", em termos práticos. Estou à distância de uma tecla de um passado semi-adormecido, anestesiado pela correria dos dias impiedosos e inexoráveis.
Não é este o espaço das lamentações.
Estou em Chora que Logo Bebes, ponto de partida.
Será um dia ponto de chegada.
Entretanto, é a viagem.
Encontrei o meu professor de Desenho: o pintor João Paulo.
Aqui deixo as palavras que lhe teria dito aos quinze anos, se, nessa altura, soubesse verbalizar o que então já sentia.
Eu sabia, sentia, que estava (estávamos todos) perante um mestre, um artista, alguém que tinha naquela forma de expressão a sua forma de expressão: era a sua natureza, feita de cores, traços. Ele sabia, no meu caso, que estava perante o grau zero do conhecimento e do talento nessa área.
Queria tanto agradecer-lhe nunca ter sentido qualquer forma de humilhação por isso!
Pelo contrário: lutou contra a minha ignorância, para além de todos os limites.
E, graças a essa sua luta, eu não "chumbei" a Desenho no exame de quinto ano. Os correctores da prova de exame devem ter visto na minha prova a sua determinação.
Como professora, lembro-me muitas vezes deste mestre.
O meu tributo é a tentativa séria de imitar o seu exemplo pedagógico!
segunda-feira, 30 de agosto de 2004
Mia Couto, a propósito de...
... nada! Ou talvez:muito!
Hoje viajei até às minhas origens, parei em Ma-shamba e lá encontrei um caminho que me levou a um conto/uma crónica do Cronicando, que prova que a beleza e a simplicidade andam sempre próximas, muito próximas!
Recordei o dia em que os meus olhos bateram num livro muito simples, mas diferente.
Ainda hoje não sei por que é que o achei diferente...
Chamava-se Cronicando e o nome do autor era totalmente desconhecido para mim!
Li-o com o prazer acrescido de descobrir uma língua dentro de outra.
Mantenho na memória o gosto que senti ao longo de todas as histórias de Cronicando,mas há uma especial:a do filho que dá à luz a mãe.
Chama-se o Filho da Morte e é uma história de morte e de vida, num campo de refugiados, “que se doseavam, na aplicação da tristeza.” Talvez por isso, por terem de dosear a tristeza, não fosse ela consumida em doses mortais, não se ocupavam muito dos mortos, nem mesmo neste caso, tratando-se de uma grávida.
“Estavam demasiado ocupados em sobrevivências.”
Mas a pele luzidia e volumosa teimava em atrair uma atenção qualquer e a morta entrou em trabalho de parto, porque naquele dia, naquele corpo, a vida “fez horas extraordinárias”.
Ninguém se mexeu!
Ninguém excepto a “cabistonta” Tazarina, que sofria de tremuras tais que nem a si própria parecia conseguir amparar-se. Mas foi ela que pegou e deu colo àquele ser que vinha do outro lado da vida e, com ela, o choro do recém nascido cessou. O corpo dela ganhou forma e volume quase instantaneamente. Apoderou-se dela a verdadeira maternidade: “os seios se volumavam, os olhos se maternizavam”. “Nunca se viu, dizem, mãe em tanta compostura.”
É impossível falar do texto, sem recorrer às próprias palavras do autor, pois não há no nosso vocabulário palavras que substituam as que ele inventa.
Maternizar significa tornar materno.
E foi o que aconteceu à Tazarina, ou melhor aos seus olhos, tornaram-se olhos de mãe.
Hoje viajei até às minhas origens, parei em Ma-shamba e lá encontrei um caminho que me levou a um conto/uma crónica do Cronicando, que prova que a beleza e a simplicidade andam sempre próximas, muito próximas!
Recordei o dia em que os meus olhos bateram num livro muito simples, mas diferente.
Ainda hoje não sei por que é que o achei diferente...
Chamava-se Cronicando e o nome do autor era totalmente desconhecido para mim!
Li-o com o prazer acrescido de descobrir uma língua dentro de outra.
Mantenho na memória o gosto que senti ao longo de todas as histórias de Cronicando,mas há uma especial:a do filho que dá à luz a mãe.
Chama-se o Filho da Morte e é uma história de morte e de vida, num campo de refugiados, “que se doseavam, na aplicação da tristeza.” Talvez por isso, por terem de dosear a tristeza, não fosse ela consumida em doses mortais, não se ocupavam muito dos mortos, nem mesmo neste caso, tratando-se de uma grávida.
“Estavam demasiado ocupados em sobrevivências.”
Mas a pele luzidia e volumosa teimava em atrair uma atenção qualquer e a morta entrou em trabalho de parto, porque naquele dia, naquele corpo, a vida “fez horas extraordinárias”.
Ninguém se mexeu!
Ninguém excepto a “cabistonta” Tazarina, que sofria de tremuras tais que nem a si própria parecia conseguir amparar-se. Mas foi ela que pegou e deu colo àquele ser que vinha do outro lado da vida e, com ela, o choro do recém nascido cessou. O corpo dela ganhou forma e volume quase instantaneamente. Apoderou-se dela a verdadeira maternidade: “os seios se volumavam, os olhos se maternizavam”. “Nunca se viu, dizem, mãe em tanta compostura.”
É impossível falar do texto, sem recorrer às próprias palavras do autor, pois não há no nosso vocabulário palavras que substituam as que ele inventa.
Maternizar significa tornar materno.
E foi o que aconteceu à Tazarina, ou melhor aos seus olhos, tornaram-se olhos de mãe.
domingo, 29 de agosto de 2004
A kiss is just a kiss...
A propósito de beijo, Ingrid Bergman, a mítica protagonista de Casablanca disse:
"Um beijo é uma partida adorável concebida pela natureza, para calar as palvras quando elas se tornam supérfluas."
A 29 de Agosto de 1915, nascia Ingrid Bergman, na Suécia, em Estocolmo.
A 29 de Agosto de 1982, no dia do seu aniversário, tal como Shakespeare, depois de uma pequenina festa de aniversário com os amigos mais próximos, morria Ingrid Bergman, em Chelsea, em Inglaterra, em paz com a vida, com a sua vida, que segundo confessara a um amigo, tinha valido a pena viver.
A infância de Ingrid foi marcada pela tragédia da morte dos pais, mas também pela indomável vontade de ser actriz.
Apesar da sua beleza e o seu ar algo enigmático, Ingrid não pretendia que os seus papéis na tela se consumissem na imagem da mulher idealizada. Mas os sucessos de bilheteira não foram os filmes em que interpretou uma freira, uma psiquiatra ou uma alcoólica. Uma das interpretações de sucesso de Ingrid Bergman que perpassa as gerações é precisamente a de Ilsa, a romântica mulher dividida entre o amor e o casamento, em Casablanca, com Humphrey Bogart.
A vida pessoal e amorosa da bela Ingrid foi sempre polémica e alvo da censura da hipócrita moral púlica. Ingrid ,nestas questões de coscovilhice habituou-se a dar-lhes a importância devida: nenhuma!
No entanto, no caso Bergman-Rosselini, o escândalo ultrapassou a barreira do espectáculo, tomou dimensões inimagináveis. Ingrid Berman foi humilhada pela classe política, nomeadamente pelo Senador Edward Johnson, que propôs uma medida específica para actores estrangeiros, de modo a poder expulsá-los, por atentado à moral pública.
O talento da actriz sobrepor-se-ia a este mal estar e o seu trabalho foi devidamente reconhecido pelos pares e acarinhado pelo público.
Os últimos anos de vida foram marcados pela luta contra o cancro, cujos primeiros avisos ignorou.
Depois lutou, à sua maneira, contra a ideia da morte:“As vítimas de cancro que não aceitam o destino, que não aprendem a conviver com ele, acabam por destruir o tempo que lhes resta.”, dizia.
Assim viveu durante oito anos.
O seu último trabalho foi a interpretação de Golda Meir na televisão: Uma Mulher Chamada Golda, em 1982.
sábado, 28 de agosto de 2004
sexta-feira, 27 de agosto de 2004
quinta-feira, 26 de agosto de 2004
"Para que fosses nosso..."
É bom voltar a casa, aos hábitos que nos sustentam o ano inteiro!
Não sei bem se gosto de férias, pelo menos destes modelos de férias que são impingidos com matizes de felicidade dourada, em pacotes diverosos, adequados aos diversos ordenados dos portugueses.
Quer gastar pouco? Vá à Tunísia. Vá ao Brasil. República Dominicana?! Excelente ideia. Encontra lá toda a gente do seu bairro, da sua repartição...
Quer gastar muito? Pode gastar à vontade? Vá até ao Algarve.
Convém falar Inglês, pois mesmo na piscina do aldeamento pode ser abordado noutra língua.Se o atenderem em Português correcto, sem o marafado sotaque, pergunte ao empregado a nacionalidade. Talvez ucraniano! Talvez romeno!
Convém ler, "pelo menos mais ou menos" a língua de nuestros hermanos. Revistas e jornais chegam de todo o lado, menos do "nosso lado"...
Mas há lá mar melhor que o Mar Português?!
Para cá de todas as humilhações, para cá de todas as soberanias, o mar é nosso.
Não sei bem se gosto de férias, pelo menos destes modelos de férias que são impingidos com matizes de felicidade dourada, em pacotes diverosos, adequados aos diversos ordenados dos portugueses.
Quer gastar pouco? Vá à Tunísia. Vá ao Brasil. República Dominicana?! Excelente ideia. Encontra lá toda a gente do seu bairro, da sua repartição...
Quer gastar muito? Pode gastar à vontade? Vá até ao Algarve.
Convém falar Inglês, pois mesmo na piscina do aldeamento pode ser abordado noutra língua.Se o atenderem em Português correcto, sem o marafado sotaque, pergunte ao empregado a nacionalidade. Talvez ucraniano! Talvez romeno!
Convém ler, "pelo menos mais ou menos" a língua de nuestros hermanos. Revistas e jornais chegam de todo o lado, menos do "nosso lado"...
Mas há lá mar melhor que o Mar Português?!
Para cá de todas as humilhações, para cá de todas as soberanias, o mar é nosso.
sábado, 14 de agosto de 2004
quinta-feira, 12 de agosto de 2004
"I love Torga"
Dizia eu, numa caricatura de um jornal de turma, feito por alunos do oitavo ano a quem eu dava aulas de Português.
Devia "notar-se" muito a minha preferência.
Adolfo Coelho da Rocha, Miguel Torga para os livros, nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho de Anta, Trás- os- Montes e faleceu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995. Deixou a sua vida escrita em duas grandes obras autobiográficas: A Criação do Mundo e Diário, este último é prosa, poesia, ensaio... São muitos os volumes de poesia E são também muitos os contos, deixando sempre visível a intenção de retratar um Portugal distante, sozinho e quase desconhecido.
Os Diários e a Criação do Mundo foram, de todas as obras, as que li mais vorazmente, em toda a minha vida.
Nunca nessas páginas encontrei certezas absolutas. Mas encontrei muitas explicações para os lados mais difíceis da vida.
"Como é sabido, ninguém conhece o dia de amanhã, e, pelo que me diz respeito, fui um mártir dessa incerteza."
Torga era assim: triste. Ou telúrico, como dizem os críticos literários.
Diz-se que era um homem inacessível, distante, pouco simpático, sobretudo quando vestia a farpela de escritor, em actos públicos.
Diz-se e pode ser verdade.
Mas, na privacidade dos livros entregou-se a todos, de alma e coração.
Devia "notar-se" muito a minha preferência.
Adolfo Coelho da Rocha, Miguel Torga para os livros, nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho de Anta, Trás- os- Montes e faleceu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995. Deixou a sua vida escrita em duas grandes obras autobiográficas: A Criação do Mundo e Diário, este último é prosa, poesia, ensaio... São muitos os volumes de poesia E são também muitos os contos, deixando sempre visível a intenção de retratar um Portugal distante, sozinho e quase desconhecido.
Os Diários e a Criação do Mundo foram, de todas as obras, as que li mais vorazmente, em toda a minha vida.
Nunca nessas páginas encontrei certezas absolutas. Mas encontrei muitas explicações para os lados mais difíceis da vida.
"Como é sabido, ninguém conhece o dia de amanhã, e, pelo que me diz respeito, fui um mártir dessa incerteza."
Torga era assim: triste. Ou telúrico, como dizem os críticos literários.
Diz-se que era um homem inacessível, distante, pouco simpático, sobretudo quando vestia a farpela de escritor, em actos públicos.
Diz-se e pode ser verdade.
Mas, na privacidade dos livros entregou-se a todos, de alma e coração.
quarta-feira, 11 de agosto de 2004
Os cinco e as nossas vidas
Enid Blyton nasceu no fim do século dezanove, a 11 de Agosto de 1897, em Londres.
“Ela era uma criança, pensava como uma criança e escrevia como uma criança.” Um psicólogo, Michael Woods, concluía ser este o segredo do sucesso dos livros de Enid Blyton. Como qualquer criança, Enid Blyton conhecia o poder da fantasia. Ao longo de várias gerações e durante uma grande parte do século vinte, os seus livros contribuíram para um imaginário colectivo de fantasia, onde as forças do bem protagonizavam a vida.
Graças à sua escrita muitos têm ainda hoje a paixão da leitura.
Foi um começo feliz!
Se a tanto me ajudar o engenho...
Ana Sousa, exposição de pintura na Casa do Artista em Março de 2004
Querida Ana, olha um dos teus quadros aqui no nosso canto do mundo, em Chora que Logo Bebes.
Querida Ana, olha um dos teus quadros aqui no nosso canto do mundo, em Chora que Logo Bebes.
segunda-feira, 9 de agosto de 2004
Balada para Jesse Owens, de Manuel Alegre
Em mil novecentos e trinta e seis
Hitler perdeu uma batalha
Tinha um Partido um Estado uma Nação
SS Gestapo Cruz Gamada tanques
soldados e botas para calçar
Em toda a terra o pensamento
Só não tinha ninguém para saltar
Oito metros e seis em comprimento
Tinha generais para mandar
E tinha generais para obedecer
Submarinos barcos porta-aviões
Quinta coluna espiões propaganda Tudo
Estava pronto para a conquista
De espaço vital mercados povos mundos
SÓ não havia ninguém para correr
Dez metros em dez segundos
Por isso em mil novecentos e trinta e seis
Hitler perdeu uma batalha
À quarta medalha de Jesse Owens
Virou as costas e saiu do Estádio
Tinha uma máquina de moer
Quem não fosse alemão ou ariano
Só não tinha arianos para vencer
Aquele negro americano
Publicado no Jornal "A Bola" de 5 de Janeiro de 1985
Hitler perdeu uma batalha
Tinha um Partido um Estado uma Nação
SS Gestapo Cruz Gamada tanques
soldados e botas para calçar
Em toda a terra o pensamento
Só não tinha ninguém para saltar
Oito metros e seis em comprimento
Tinha generais para mandar
E tinha generais para obedecer
Submarinos barcos porta-aviões
Quinta coluna espiões propaganda Tudo
Estava pronto para a conquista
De espaço vital mercados povos mundos
SÓ não havia ninguém para correr
Dez metros em dez segundos
Por isso em mil novecentos e trinta e seis
Hitler perdeu uma batalha
À quarta medalha de Jesse Owens
Virou as costas e saiu do Estádio
Tinha uma máquina de moer
Quem não fosse alemão ou ariano
Só não tinha arianos para vencer
Aquele negro americano
Publicado no Jornal "A Bola" de 5 de Janeiro de 1985
domingo, 8 de agosto de 2004
Dá para ACREDITAR
Que, nesta sala, os meninos brincam com brinquedos ou com alguém que lhes oferece o seu tempo e a sua esperança.
São os voluntários.
Alguns são Barnabés, ou seja, jovens que já passaram pela mesma experiência. Estão ali não só para dar esperança e testemunho da cura, mas também para ajudar a concretizar essa cura.
Os Barnabés até já acompanharam alguns meninos a Paris, à Disney.
Vale a pena falar e voltar a falar sobre este projecto de esperança e de vida!
A Inês tem que ganhar esta batalha!
A minha homenagem sincera à Inês: pela coragem e pela esperança que nos ensina com o exemplo de luta sem tréguas.
A minha homenagem aos pais, pelos mesmos motivos.
Também pelo exemplo.
Recebo a lição, com humildade.
Esta é também a lição do apelo solidário: em nome da Inês, em nome de todos os meninos e meninas que sofrem! Para a Inês e para todos os meninos e meninas que sofrem.
sexta-feira, 6 de agosto de 2004
Cruel lição de História (1945 - 6 de Agosto)
Foi lançada a Bomba Atómica sobre Hiroshima!
"A explosão libertou uma quantidade absurda de radiação e o mundo conheceu pela primeira vez a imagem do temido cogumelo atómico. Ao todo, morreram cerca de 300 mil pessoas em consequência directa do ataque. Quem não morreu queimado, esmagado ou pulverizado sofreu mais tarde com os efeitos da radiação - em geral, morte por cancro."
A fotografia mais triste do albúm da Humanidade!
Dois dias depois, Torga escrevia no seu Diário (Volume III):
"Em Hiroshima, onde a bomba atómica foi lançada, tudo quanto era vida, morreu. Por causa do fumo e da poeira que se levantaram, o mundo esteve de respiração suspensa, sem saber o que tinha acontecido. Mas hoje de manhã, os jornais, diligentes, já estavam senhores da realidade inteira. Não tinham morrido vinte, trinta ou quarenta mil, como era de temer. Para matar a ridicularia de quarenta mil pessoas não era necessário tanto sonho. Não, felizmente não se tratava de um desapontamento. Nem quarenta, enm sessenta, nem setenta mil mortos. isto só: todos os seres vivos liquidados!
A humanidade dobrou o jornal aliviada."
"A explosão libertou uma quantidade absurda de radiação e o mundo conheceu pela primeira vez a imagem do temido cogumelo atómico. Ao todo, morreram cerca de 300 mil pessoas em consequência directa do ataque. Quem não morreu queimado, esmagado ou pulverizado sofreu mais tarde com os efeitos da radiação - em geral, morte por cancro."
A fotografia mais triste do albúm da Humanidade!
Dois dias depois, Torga escrevia no seu Diário (Volume III):
"Em Hiroshima, onde a bomba atómica foi lançada, tudo quanto era vida, morreu. Por causa do fumo e da poeira que se levantaram, o mundo esteve de respiração suspensa, sem saber o que tinha acontecido. Mas hoje de manhã, os jornais, diligentes, já estavam senhores da realidade inteira. Não tinham morrido vinte, trinta ou quarenta mil, como era de temer. Para matar a ridicularia de quarenta mil pessoas não era necessário tanto sonho. Não, felizmente não se tratava de um desapontamento. Nem quarenta, enm sessenta, nem setenta mil mortos. isto só: todos os seres vivos liquidados!
A humanidade dobrou o jornal aliviada."
quinta-feira, 5 de agosto de 2004
Goodbye Norma Jean!
No Inverno de 1961, Marilyn Monroe é internada numa clínica psiquiátrica, mas o sofrimento de toda a sua vida só terminaria a 5 de Agosto de 62, quando misteriosamente, na sua casa de Brentwood, Califórnia, morreu ou apareceu morta, de acordo com versões diversas.
Tinha apenas 36 anos.
Morria a mulher mais desejada do mundo, provavelmente a mais mal-amada.
Nascia a lenda que ainda hoje mantém Marilyn no plano mais elevado das divas do cinema.
Podemos rever os seus filmes, mais de trinta, rever a sua imagem, mas jamais saberemos a resposta a uma pergunta que se impõe: “Quanta felicidade trazem, ou podem trazer à vida, a beleza, o sucesso e o dinheiro?”
Ela própria afirmou que em “Hollywood se pagava mil dólares por um beijo e cinquenta cêntimos por uma alma”.
Tinha apenas 36 anos.
Morria a mulher mais desejada do mundo, provavelmente a mais mal-amada.
Nascia a lenda que ainda hoje mantém Marilyn no plano mais elevado das divas do cinema.
Podemos rever os seus filmes, mais de trinta, rever a sua imagem, mas jamais saberemos a resposta a uma pergunta que se impõe: “Quanta felicidade trazem, ou podem trazer à vida, a beleza, o sucesso e o dinheiro?”
Ela própria afirmou que em “Hollywood se pagava mil dólares por um beijo e cinquenta cêntimos por uma alma”.
quarta-feira, 4 de agosto de 2004
Zeca
Ouvi com emoção algumas cantigas cantadas pelo Zeca Afonso, no Coliseu.
Com emoção e com saudade.
Saudade de muitos tempos. Os mais antigos são os do Liceu António Enes, em Moçambique, Lourenço Marques, hoje Maputo. O Zeca era professor de Geografia. Os alunos eram os seus maiores fãs. Hoje, percebo ainda melhor o valor desta admiração. Mesmo os que não eram alunos do Zeca eram contagiados pelos outros. Ouvíamos as cantigas e votávamos para que ele ficasse em primeiro lugar num Top de um jornal. E ficava. Era a louca correria aos cupões: recorta, preenche e manda...
Valeu a pena! Cada um de nós ficou com essa marquinha de saudade individual, que desagua nesta foz imensa da saudade de todos. Porque a canção do Zeca chega a todos.
Obrigada Ouguela pela homenagem ao Zeca.
Com emoção e com saudade.
Saudade de muitos tempos. Os mais antigos são os do Liceu António Enes, em Moçambique, Lourenço Marques, hoje Maputo. O Zeca era professor de Geografia. Os alunos eram os seus maiores fãs. Hoje, percebo ainda melhor o valor desta admiração. Mesmo os que não eram alunos do Zeca eram contagiados pelos outros. Ouvíamos as cantigas e votávamos para que ele ficasse em primeiro lugar num Top de um jornal. E ficava. Era a louca correria aos cupões: recorta, preenche e manda...
Valeu a pena! Cada um de nós ficou com essa marquinha de saudade individual, que desagua nesta foz imensa da saudade de todos. Porque a canção do Zeca chega a todos.
Obrigada Ouguela pela homenagem ao Zeca.
Ontem recebi uma visita especial
A Thita!
Veio, com simpatia, retribuir-me a visita que lhe fiz há uns tempos.
Obrigada, Thita!
Como devemos sempre oferecer alguma coisa às visitas, aqui fica um poema, feito por uma menina da minha escola (Raquel, 5º ano):
Se eu fosse
Se eu fosse o vento,
tirava do mundo o desalento...
Se eu fosse o Sol,
iluminava qualquer girassol...
Se eu fosse a água,
afogava toda a mágoa...
Se eu fosse a terra,
rolava sobre a serra...
Se eu fosse o luar,
punha todas as estrelas a brilhar...
Um beijinho, Thita
Veio, com simpatia, retribuir-me a visita que lhe fiz há uns tempos.
Obrigada, Thita!
Como devemos sempre oferecer alguma coisa às visitas, aqui fica um poema, feito por uma menina da minha escola (Raquel, 5º ano):
Se eu fosse
Se eu fosse o vento,
tirava do mundo o desalento...
Se eu fosse o Sol,
iluminava qualquer girassol...
Se eu fosse a água,
afogava toda a mágoa...
Se eu fosse a terra,
rolava sobre a serra...
Se eu fosse o luar,
punha todas as estrelas a brilhar...
Um beijinho, Thita
terça-feira, 3 de agosto de 2004
1492, 3 de Agosto
Uma das mais famosas viagens da História, começou a a 3 de Agosto.
1492 Colombo parte de Palos, rumo à Índia.
Apareceram-lhe terras pelo caminho: as Américas.
Mapa-Múndi de Juan de la Cosa, princípio do século XVI
Cristovão Colombo, o marinheiro genovês que conseguiu convencer os reis católicos a "embarcar" na aventura da descoberta de um determinado caminho marítimo para a Índia. Descobriu a América. Não lhe valeu de muito, já que a história conta que uns anos mais tarde, a 20 de Maio de 1506, morre em Valladolid, "abandonado e esquecido".
1492 Colombo parte de Palos, rumo à Índia.
Apareceram-lhe terras pelo caminho: as Américas.
Mapa-Múndi de Juan de la Cosa, princípio do século XVI
Cristovão Colombo, o marinheiro genovês que conseguiu convencer os reis católicos a "embarcar" na aventura da descoberta de um determinado caminho marítimo para a Índia. Descobriu a América. Não lhe valeu de muito, já que a história conta que uns anos mais tarde, a 20 de Maio de 1506, morre em Valladolid, "abandonado e esquecido".
segunda-feira, 2 de agosto de 2004
Saudade da Guidinha- artigo da Capital, de Rogério Rodrigues
Carta aberta ao pai da guidinha
Mas tenho a boa novidade o teu felizmente há luar dá-se nas escolas quem estraga tudo são os resumos que a rapaziada não está para ler a peça toda nem representá-la hoje nem feliz nem infelizmente há luar muito embora estejamos em Agosto e não em Outubro da execução do freire de andrade cujo delator foi um tal morais sarmento estamos em agosto e há um luar pleno uma lua cheia não sei se se pode dizer plenilúnio
Escolheste o silêncio eterno luís mas eu tenho saudades tuas porque escolheste paraísos sem mágoas menos artificiais e menos fiscais eu tenho saudades tuas sttau escolheste o esquecimento teu e dos outros mas eu continuo a lembrar-te luís sttau monteiro quando não sei se sabes que por aqui as notícias não são de todo agradáveis e a tua guidinha que sempre trataste com tanto carinho e amor foi a um pronto a escrever e comprou um sortido de maiúsculas vírgulas e pontos para se reciclar e fazer cozinhados da grande culinária social esquecendo-se de ti e adoptando outro nome o que é uma ingratidão mas conduta atitude como se diz agora normal correcta em dia luís isto está muito pior do que tu o deixaste já não a tua elegância mesmo de chinelos e dedos amarelecidos pelo tabaco tanto podias entrar no tavares rico como na tasca do joão na luz soriano onde partilhávamos uma garrafa de gin cuja marca já não aparece tower london um aviso do mal que a bebida das velhas inglesas fazia essa cadeia que nem sequer dispensavas no bacalhau com grão no solar do loreto luís estamos no crepúsculo até a guidinha nos abandona transformada em santanete que tu nem imaginas o que está a acontecer no país de que tanto gostavas e tanto detestavas na tua educação british filho de embaixador em londres meu adorável mentiroso tão mentiroso que te enganavas a ti próprio e nem de propósito estavas desiludido com a esquerda e a esquerda dava-te razões para estares desiludido e hoje estarias desiludido com todos que a guidinha deixou-te em maus lençóis apanhada agora a escrever novelas e já meio tia no algarve a quem não perguntam o que está a ler mas sim o que está a escrever este país está assim luís nem tu imaginas os que já morreram a não ser que estejam na tua companhia e aí o caso já muda de figura mas como sabes há muito eu não acredito nestas coisas de convívio eterno em que é proibida a má língua e maledicência portanto o melhor é que estejas sozinho não saibas nada do que se diz e vê no telejornal porque se eu por acaso numa comunicação mediúnica com o apoio da natália correia te anunciasse que santana lopes é primeiro-ministro e te alinhasse a nomenclatura governativa mandavas-me para o pasto de cambronne e dizias que eu tinha enlouquecido e eu respondia-te luís não fui eu que enlouqueci alguém enlouqueceu por mim e isto ainda não é tudo com assessoras no egipto lulus e lilis nas maldivas ou no bengladesh e guerras de alecrim e manjerona expressões que a guidinha não usava que ela era mais para a frentex e que hoje também se não usa porque em inglês é que tudo resulta mas eu escrevo-te assim não para te deprimir nem denunciar o teu conforto celestial muito menos para te informar que no ps ninguém se entende muito embora tu nunca tivesses pertencido a qualquer partido antes e apenas do reviralho daquilo que não estava bem não sabendo tu o que estaria melhor franco atirador de uma figa estando os teus melhores amigos no que é hoje o ps nunca foste ouvido nem achado mas tenho a boa novidade o teu felizmente há luar dá-se nas escolas quem estraga tudo são os resumos que a rapaziada não está para ler a peça toda nem representá-la hoje nem feliz nem infelizmente há luar muito embora estejamos em agosto e não em outubro da execução do freire de andrade cujo delator foi um tal morais sarmento estamos em agosto e há um luar pleno uma lua cheia não sei se se pode dizer plenilúnio acho que os foguetes vão ser proibidos por causa dos incêndios e o teu amigo de longa data jorge sampaio não se está a portar lá muito bem isso na opinião sempre subjectiva daqueles que votaram nele e nos quais me incluo pelo que vai alguma tristeza neste país e a esquerda está a fazer a cama no desconforto olha luís vou deixar-te que já estou atrasado para a vida a vidinha este correr das horas esta impertinência do tempo que nos quer iludir e eu não quero acabar esta carta em tristeza que um homem não chora mas também não é de ferro luís estejamos prontos para este abraço entre algodão e rama e fumo de tabaco como putos apanhados em falso que agora já quase é crime fumar que eu não sei se aí te deixam acompanhar o gin com um cigarro e tens um grupo de amigos como em campo d’ourique para saborear a tua imaginação gastronómica com o melo lapa o brun do canto e o este então miúdo que mal se assina tão trémulo está de saudade e de inquietação do futuro.
Mas tenho a boa novidade o teu felizmente há luar dá-se nas escolas quem estraga tudo são os resumos que a rapaziada não está para ler a peça toda nem representá-la hoje nem feliz nem infelizmente há luar muito embora estejamos em Agosto e não em Outubro da execução do freire de andrade cujo delator foi um tal morais sarmento estamos em agosto e há um luar pleno uma lua cheia não sei se se pode dizer plenilúnio
Escolheste o silêncio eterno luís mas eu tenho saudades tuas porque escolheste paraísos sem mágoas menos artificiais e menos fiscais eu tenho saudades tuas sttau escolheste o esquecimento teu e dos outros mas eu continuo a lembrar-te luís sttau monteiro quando não sei se sabes que por aqui as notícias não são de todo agradáveis e a tua guidinha que sempre trataste com tanto carinho e amor foi a um pronto a escrever e comprou um sortido de maiúsculas vírgulas e pontos para se reciclar e fazer cozinhados da grande culinária social esquecendo-se de ti e adoptando outro nome o que é uma ingratidão mas conduta atitude como se diz agora normal correcta em dia luís isto está muito pior do que tu o deixaste já não a tua elegância mesmo de chinelos e dedos amarelecidos pelo tabaco tanto podias entrar no tavares rico como na tasca do joão na luz soriano onde partilhávamos uma garrafa de gin cuja marca já não aparece tower london um aviso do mal que a bebida das velhas inglesas fazia essa cadeia que nem sequer dispensavas no bacalhau com grão no solar do loreto luís estamos no crepúsculo até a guidinha nos abandona transformada em santanete que tu nem imaginas o que está a acontecer no país de que tanto gostavas e tanto detestavas na tua educação british filho de embaixador em londres meu adorável mentiroso tão mentiroso que te enganavas a ti próprio e nem de propósito estavas desiludido com a esquerda e a esquerda dava-te razões para estares desiludido e hoje estarias desiludido com todos que a guidinha deixou-te em maus lençóis apanhada agora a escrever novelas e já meio tia no algarve a quem não perguntam o que está a ler mas sim o que está a escrever este país está assim luís nem tu imaginas os que já morreram a não ser que estejam na tua companhia e aí o caso já muda de figura mas como sabes há muito eu não acredito nestas coisas de convívio eterno em que é proibida a má língua e maledicência portanto o melhor é que estejas sozinho não saibas nada do que se diz e vê no telejornal porque se eu por acaso numa comunicação mediúnica com o apoio da natália correia te anunciasse que santana lopes é primeiro-ministro e te alinhasse a nomenclatura governativa mandavas-me para o pasto de cambronne e dizias que eu tinha enlouquecido e eu respondia-te luís não fui eu que enlouqueci alguém enlouqueceu por mim e isto ainda não é tudo com assessoras no egipto lulus e lilis nas maldivas ou no bengladesh e guerras de alecrim e manjerona expressões que a guidinha não usava que ela era mais para a frentex e que hoje também se não usa porque em inglês é que tudo resulta mas eu escrevo-te assim não para te deprimir nem denunciar o teu conforto celestial muito menos para te informar que no ps ninguém se entende muito embora tu nunca tivesses pertencido a qualquer partido antes e apenas do reviralho daquilo que não estava bem não sabendo tu o que estaria melhor franco atirador de uma figa estando os teus melhores amigos no que é hoje o ps nunca foste ouvido nem achado mas tenho a boa novidade o teu felizmente há luar dá-se nas escolas quem estraga tudo são os resumos que a rapaziada não está para ler a peça toda nem representá-la hoje nem feliz nem infelizmente há luar muito embora estejamos em agosto e não em outubro da execução do freire de andrade cujo delator foi um tal morais sarmento estamos em agosto e há um luar pleno uma lua cheia não sei se se pode dizer plenilúnio acho que os foguetes vão ser proibidos por causa dos incêndios e o teu amigo de longa data jorge sampaio não se está a portar lá muito bem isso na opinião sempre subjectiva daqueles que votaram nele e nos quais me incluo pelo que vai alguma tristeza neste país e a esquerda está a fazer a cama no desconforto olha luís vou deixar-te que já estou atrasado para a vida a vidinha este correr das horas esta impertinência do tempo que nos quer iludir e eu não quero acabar esta carta em tristeza que um homem não chora mas também não é de ferro luís estejamos prontos para este abraço entre algodão e rama e fumo de tabaco como putos apanhados em falso que agora já quase é crime fumar que eu não sei se aí te deixam acompanhar o gin com um cigarro e tens um grupo de amigos como em campo d’ourique para saborear a tua imaginação gastronómica com o melo lapa o brun do canto e o este então miúdo que mal se assina tão trémulo está de saudade e de inquietação do futuro.
Saudade da Guidinha
Quem se lembra da Guidinha? Quem se lembra de Luís de Sttau Monteiro?
Em tempos que já lá vão (vão mesmo? ou é ilusão da nossa vontade?), não se podia escrever “à descarada”, a dizer mal do governo ou de outros senhores importantes, ou do estado das coisas. E qualquer pequeno atentado ao pudor hipócrita da moral pública podia valer um castigo pesado, não pecuniário, mas pago em liberdade, o que era bem pior. E, em termos de hipocrisia e moral pública, hoje, infelizmente, continuamos a não estar muito bem, receio...
Assim, disfarçadamente, para fugir o mais possível ao lápis azul e respectivas consequências, publicavam-se textos, que iludiam os donos do lápis azul, pois tinham o aspecto inocente e infantil de redacção. Quando percebiam que as redacções de inocente não tinham nada, era tarde.
As redacções da Guidinha remetem-nos para as vivências reais, duma família média-baixa , económica, cultural e socialmente falando. A Guidinha é uma criança traquina e quando é apanhada a fazer qualquer maldade, não diz a verdade sobre a identidade dos seus pais. Depois, diverte-se imenso com a confusão que gera, já que os pais, arranjados à pressa, são dois homens...A Guidinha já previa que trinta anos mais tarde o problema descia (ou subia?) à Assembleia da Republica e que todos os intelectuais, e não só, iam gastar muita massa cinzenta a debater o problema das uniões de facto.
(Deixem-me abrir um parênteses: Sttau Monteiro daria hoje um bom contributo para a discussão. Nunca foi um intelectual de moda. Foi sempre um homem que defendeu com coragem os seus pontos de vista, doesse a quem doesse. Não se veja nesta passagem qualquer preconceito. Ele viveu acima dos preconceitos e isso nem sempre lhe valeu a simpatia dos outros .)
Mas esta não é a única realidade que sai das redacções da Guidinha para os nossos dias, assim, quase sem tirar nem pôr...São os créditos, ainda sem cartão, mas já a malvada mania de se ter, ter, ter, sem pensar no ser. São as famílias quase pobres que não assumem as dificuldades do dia a dia.
São hilariantes as redacções da Guidinha! Por exemplo, quando a Guidinha se refere aos inconvenientes das modernas fechaduras, minúsculas, com buracos muito mais difíceis de espreitar. Impossíveis mesmo! É que a Guidinha representa muito bem um tipo de gente, que havia e não deixou de haver: os que gostam muito de saber da vida alheia. E defende a curiosidade, como atitude científica, com todas as forças. Cita a professora, que “diz que a ciência é filha da curiosidade” e afirma, corajosa, que vai continuar a espreitar pelos buracos das fechaduras.
A Guidinha é uma menina esperta, com o sentido de justiça que as crianças têm, mas espartilhada pelas insuficiências todas da sua classe. A Guidinha leva “bumba no toutiço” por dá cá aquela palha, à conta da frustração do pai, que se chama José e é escravo, de trabalho (subentenda- se), empregado de escritório, que receia não receber a gratificação no Natal, para comprar o peru.
Uma das coisas que a Guidinha não suportava era a eterna mentira em que a obrigavam a viver. Tretas, chamava-lhe. Uma delas era o Pai Natal. Um Pai Natal não oferece compêndios (era este o nome dos actuais manuais escolares) de Ciências Naturais! Um Pai Natal não traz do Céu uma camisola dos saldos da Rua dos Fanqueiros. Aí põe-se o problema do Céu ser a Rua dos Fanqueiros!
Hoje o Céu mudou de sítio, mudou-se para um dos modernos Centros Comerciais, mas a mentira é igual. Consome-se o Céu, em meia dúzia de compras.
A Guidinha esteve sempre lá, no suplemento “A Mosca” do Diário de Lisboa, para denunciar tudo, como quem não entende nada de coisa nenhuma.
E que falta faz a Guidinha hoje, aqui!
Hoje, alguém o recorda na Capital
Em tempos que já lá vão (vão mesmo? ou é ilusão da nossa vontade?), não se podia escrever “à descarada”, a dizer mal do governo ou de outros senhores importantes, ou do estado das coisas. E qualquer pequeno atentado ao pudor hipócrita da moral pública podia valer um castigo pesado, não pecuniário, mas pago em liberdade, o que era bem pior. E, em termos de hipocrisia e moral pública, hoje, infelizmente, continuamos a não estar muito bem, receio...
Assim, disfarçadamente, para fugir o mais possível ao lápis azul e respectivas consequências, publicavam-se textos, que iludiam os donos do lápis azul, pois tinham o aspecto inocente e infantil de redacção. Quando percebiam que as redacções de inocente não tinham nada, era tarde.
As redacções da Guidinha remetem-nos para as vivências reais, duma família média-baixa , económica, cultural e socialmente falando. A Guidinha é uma criança traquina e quando é apanhada a fazer qualquer maldade, não diz a verdade sobre a identidade dos seus pais. Depois, diverte-se imenso com a confusão que gera, já que os pais, arranjados à pressa, são dois homens...A Guidinha já previa que trinta anos mais tarde o problema descia (ou subia?) à Assembleia da Republica e que todos os intelectuais, e não só, iam gastar muita massa cinzenta a debater o problema das uniões de facto.
(Deixem-me abrir um parênteses: Sttau Monteiro daria hoje um bom contributo para a discussão. Nunca foi um intelectual de moda. Foi sempre um homem que defendeu com coragem os seus pontos de vista, doesse a quem doesse. Não se veja nesta passagem qualquer preconceito. Ele viveu acima dos preconceitos e isso nem sempre lhe valeu a simpatia dos outros .)
Mas esta não é a única realidade que sai das redacções da Guidinha para os nossos dias, assim, quase sem tirar nem pôr...São os créditos, ainda sem cartão, mas já a malvada mania de se ter, ter, ter, sem pensar no ser. São as famílias quase pobres que não assumem as dificuldades do dia a dia.
São hilariantes as redacções da Guidinha! Por exemplo, quando a Guidinha se refere aos inconvenientes das modernas fechaduras, minúsculas, com buracos muito mais difíceis de espreitar. Impossíveis mesmo! É que a Guidinha representa muito bem um tipo de gente, que havia e não deixou de haver: os que gostam muito de saber da vida alheia. E defende a curiosidade, como atitude científica, com todas as forças. Cita a professora, que “diz que a ciência é filha da curiosidade” e afirma, corajosa, que vai continuar a espreitar pelos buracos das fechaduras.
A Guidinha é uma menina esperta, com o sentido de justiça que as crianças têm, mas espartilhada pelas insuficiências todas da sua classe. A Guidinha leva “bumba no toutiço” por dá cá aquela palha, à conta da frustração do pai, que se chama José e é escravo, de trabalho (subentenda- se), empregado de escritório, que receia não receber a gratificação no Natal, para comprar o peru.
Uma das coisas que a Guidinha não suportava era a eterna mentira em que a obrigavam a viver. Tretas, chamava-lhe. Uma delas era o Pai Natal. Um Pai Natal não oferece compêndios (era este o nome dos actuais manuais escolares) de Ciências Naturais! Um Pai Natal não traz do Céu uma camisola dos saldos da Rua dos Fanqueiros. Aí põe-se o problema do Céu ser a Rua dos Fanqueiros!
Hoje o Céu mudou de sítio, mudou-se para um dos modernos Centros Comerciais, mas a mentira é igual. Consome-se o Céu, em meia dúzia de compras.
A Guidinha esteve sempre lá, no suplemento “A Mosca” do Diário de Lisboa, para denunciar tudo, como quem não entende nada de coisa nenhuma.
E que falta faz a Guidinha hoje, aqui!
Hoje, alguém o recorda na Capital
O candidato invadido
O poeta, à luz das palavras de Francisco Lucas Pires, na Capital.
Mesmo quem tem por norma desconfiar dos poetas terá escutado com bons ouvidos o discurso de Manuel Alegre na passada quinta-feira. Um discurso com ideias sérias, estruturadas – das quais certamente se pode discordar, mas que são produto de uma reflexão cuidada –, e fórmulas próprias, claras, numa linguagem que não se refugia em ambiguidades ou nos chavões cinzentos do politiquês corrente. Um discurso que, só por si, o demarca do ambiente geral da política de hoje, em que banalidades repetidas até à exaustão são tomadas por “pensamento político” e sobrolhos franzidos para as fotografias por “poses de Estado”, em que se confunde bronzeados sorrisos de plástico com carácter ou espírito de liderança ou algo do género.
Atacando o “bloco central dos interesses”, o perigo do esvaziamento pelo centrismo, o caciquismo dos aparelhos, Manuel Alegre vem também afirmar-se, pela palavra, contra os políticos formados à sombra da imagem, deixando recados para fora e para dentro do PS. Concorde-se ou não, é admirável a generosidade e ousadia deste histórico que avança assim, com um discurso virado para a frente, sem medo nem da expressão “socialismo” nem da outra, “modernidade”. A vitória é quase impossível. Mas, pelo seu significado neste momento difícil da política portuguesa – como vitória das ideias e da palavra contra a política-espectáculo –, seria sem dúvida um bom sinal. É esperar para ver. Numa altura em que todos nos sentimos “invadidos pelos acontecimentos”, quem sabe se o dono da frase não acha um caminho?
Mesmo quem tem por norma desconfiar dos poetas terá escutado com bons ouvidos o discurso de Manuel Alegre na passada quinta-feira. Um discurso com ideias sérias, estruturadas – das quais certamente se pode discordar, mas que são produto de uma reflexão cuidada –, e fórmulas próprias, claras, numa linguagem que não se refugia em ambiguidades ou nos chavões cinzentos do politiquês corrente. Um discurso que, só por si, o demarca do ambiente geral da política de hoje, em que banalidades repetidas até à exaustão são tomadas por “pensamento político” e sobrolhos franzidos para as fotografias por “poses de Estado”, em que se confunde bronzeados sorrisos de plástico com carácter ou espírito de liderança ou algo do género.
Atacando o “bloco central dos interesses”, o perigo do esvaziamento pelo centrismo, o caciquismo dos aparelhos, Manuel Alegre vem também afirmar-se, pela palavra, contra os políticos formados à sombra da imagem, deixando recados para fora e para dentro do PS. Concorde-se ou não, é admirável a generosidade e ousadia deste histórico que avança assim, com um discurso virado para a frente, sem medo nem da expressão “socialismo” nem da outra, “modernidade”. A vitória é quase impossível. Mas, pelo seu significado neste momento difícil da política portuguesa – como vitória das ideias e da palavra contra a política-espectáculo –, seria sem dúvida um bom sinal. É esperar para ver. Numa altura em que todos nos sentimos “invadidos pelos acontecimentos”, quem sabe se o dono da frase não acha um caminho?
domingo, 1 de agosto de 2004
Paris, no mês de Agosto. E Lisboa?
De larmes et de rires
Etait fait notre amour
Qui redoutant le pire
Vivait au jour le jour
Chaque rue, chaque pierre
Semblaient n'être qu'à nous
Nous étions seuls sur terre
A Paris au mois d'août
(da canção de Charles Aznavour)
Etait fait notre amour
Qui redoutant le pire
Vivait au jour le jour
Chaque rue, chaque pierre
Semblaient n'être qu'à nous
Nous étions seuls sur terre
A Paris au mois d'août
(da canção de Charles Aznavour)
Lisboa, em Agosto, emite uma luz diferente.
Dizem que está cheia de mochilas e as caras têm quase todas uma máquina fotográfica à frente.
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